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Brasil detectou fraqueza diante de argentinos
Brasil detectou fraqueza diante de argentinos


             Despreparo para uma guerra regional alarmou militares

                    Por Marcelo de Moraes / Brasília, estadao.com.br     

                      

 

  Os generais de 64 temiam inferioridade do poder militar do Brasil

Após reprimir todos os movimentos internos de rebelião contra o governo, os militares brasileiros do Estado-Maior das Forças Armadas (EMFA) voltaram suas atenções para o estudo de hipóteses de guerra e de como deveria ser a preparação do País para isso. Segundo documentos do EMFA que relatam os debates da reunião do órgão em 17 de abril de 1978, os militares enxergavam a Argentina como o inimigo mais provável, com uma possível aliança com outros países do sul do continente, como Uruguai e Paraguai, na chamada hipótese de Guerra Delta.

O temor grande de uma batalha no Cone Sul não vinha tanto pelo poderio do rival, mas da fraqueza das tropas brasileiras, como admitem na transcrição de suas conversas os militares presentes no encontro de 1978. "Talvez o maior proveito desse trabalho de planejamento, na fase em que está, tenha sido o de nos permitir uma visão panorâmica do despreparo militar do Brasil", diz o então vice-comandante do EMFA, o vice-almirante Ibsen Câmara, que secretariou a reunião presidida pelo general Tácito de Oliveira, na ocasião ministro-chefe do EMFA. "Porque todos nós conhecemos, dentro de nossas forças, o próprio despreparo. Mas estamos agora aqui no EMFA examinando os planos de aprestamento e verificando que o conjunto está extremamente fraco, mesmo para o inimigo relativamente fraco como o que nós estamos imaginando", acrescentou o almirante Ibsen, que viria a se celebrizar pelo trabalho na defesa do meio ambiente, especialmente na preservação das baleias.

 

Para se preparar para uma eventual guerra, as forças foram instadas a organizar "planos de aprestamento", que consistiriam nas medidas a serem adotadas na área de preparação e logística, por exemplo, para uma ação que precisasse ser imediata. A confusão entre os militares já começou aí, uma vez que cada força interpretou a ordem do jeito que considerou mais adequado e os planos se tornaram insatisfatórios para atender ao pedido do governo.

 

Além disso, as dificuldades logísticas e a falta de efetivos e de equipamentos foram expostas claramente pelos participantes da reunião. "Para esse plano de emergência, esse aprestamento inicial, fizemos uma repartição dos meios existentes no momento. Deslocamos para o Teatro de Operações Sul aquilo que podemos deslocar, já sabendo de antemão que essas forças deslocadas ou previstas para o TO Sul não respondem ao grau de ameaça do provável inimigo. Elas são insuficientes", afirmou no encontro o brigadeiro Waldir de Vasconcelos, mais tarde ministro-chefe da EMFA, falando sobre a participação da Força Aérea num suposto conflito contra a Argentina. "Em matéria de Força Aérea, é muitas vezes superior a nós", reconheceu o brigadeiro.

 

Diante das dificuldades, na reunião seguinte, em 15 de agosto, o general Tácito acaba defendendo a necessidade de criação de um Plano Nacional de Segurança "que vise a proporcionar o reaparelhamento das Forças Armadas". Para propor o plano, o ministro do EMFA enviou um relatório ao presidente Ernesto Geisel. O general disse no encontro que o documento "procuraria retratar de maneira objetiva a situação extremamente precária na qual se encontram as Forças Armadas em termos de efetivo poder militar".